Este artigo foi escrito por Andrew Light e publicado originalmente no WRI Insights.


Na semana passada, completou-se um ano que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sua intenção de tirar os EUA do Acordo de Paris. O presidente disse que o acordo era ruim para os americanos. A realidade é que sua decisão está colocando os Estados Unidos em oposição ao resto do mundo, causando prejuízo para o povo americano.

Na verdade, não há razão para o governo Trump querer renegociar o Acordo de Paris. O texto não impõe obrigações indevidas, como o presidente afirma. Em vez disso, permite que cada país do mundo determine sua própria meta e crie seu próprio plano para reduzir emissões.

Toda evidência sugere que o presidente estava errado ao afirmar que aderir ao Acordo prejudicaria a economia dos Estados Unidos e destruiria postos de trabalho. Ele também estava errado ao afirmar que o Acordo permite que grandes países em desenvolvimento, como a China, não façam nada até 2030. Na verdade, a China já está dando importantes passos para descarbonizar sua economia e está a caminho de cumprir suas metas no Acordo. Da mesma forma, a Índia tem hoje uma das metas mais ambiciosas de energias renováveis do planeta e está a caminho de cumpri-las.

Desde o anúncio do presidente americano, esse histórico pacto para enfrentar as mudanças climáticas se fortaleceu ainda mais. Nenhum país do mundo indica que seguirá o caminho dos Estados Unidos. Enquanto isso, milhares de empresas americanas, cidades, estados e organizações estão aumentando seus esforços na tentativa de cobrir o buraco deixado pelo governo Trump.

Progresso com o Acordo de Paris se fortalece internacionalmente

A resposta internacional começou mesmo antes de Trump anunciar a saída do Acordo de Paris. O presidente da China, Xi Jinping, declarou em janeiro de 2017 que a China “honraria suas obrigações” no acordo climático, que ele descreveu como “um marco na história da governança do clima”. Outros líderes seguiram o exemplo chinês.

Essas respostas ajudaram a criar o momentum no encontro do G20 em julho passado em Hamburgo, Alemanha, quando 19 líderes declararam o Acordo de Paris como “irreversível”, mostrando a determinação de avançar com o combate ao aquecimento global e na prática isolando o presidente Trump.

Outros países estão preocupados com as consequências das mudanças climáticas e estão tomando importantes medidas para enfrenta-las. Em apenas um ano, sete nações se comprometeram a desativar veículos movidos a combustível fóssil, mais de 20 países concordaram com o fim do uso do carvão, e a Nova Zelândia e o Reino Unido anunciaram planos para atingir zero emissões em 2050, entre outras ações. Fica claro que o mundo continua determinado a forjar um acordo duradouro, que possa fazer frente ao desafio climático.

Sair do Acordo de Paris deixa os EUA para trás

Enquanto os Estados Unidos ficou marginalizado em questões climáticas internacionais, a China está mais ativamente fornecendo assistência ao desenvolvimento global – e, como consequência, erodindo a influência dos EUA ao redor do mundo. O ex-secretário de Estado Rex Tillerson finalmente reconheceu isso, alertando países africanos sobre o risco que acordos com a China impunham a sua soberania de cada país. Independentemente dos méritos do alerta, essa preocupação foi ignorada pela administração Trump, que demitiu Tillerson pouco depois dele retornar aos EUA.

As oportunidades econômicas que os Estados Unidos estão perdendo ao rejeitar o Acordo de Paris são gigantescas. A Corporação Financeira Internacional (IFC) estima que os compromissos feitos por países em desenvolvimento no Acordo abrem oportunidades globais de mais de US$ 23 trilhões. Outro estudo recente argumenta que cumprir os principais objetivos do Acordo de Paris iria economizar US$ 20 trilhões para as economias do mundo no final do século.

Ação climática cresce longe da esfera federal nos EUA

Enquanto atores internacionais estão avançando mesmo sem Trump, também há muitos atores não-federais nos Estados Unidos que se juntaram para tentar cumprir os compromissos climáticos americanos com o Acordo de Paris. Estados, empresas, cidades e outros estão sinalizando apoio ao se juntar ao movimento “We are still in” (Nós ainda estamos dentro), à US Climate Alliance e aos prefeitos reunidos no US Climate Mayors. O WRI e parceiros publicaram um relatório novembro passado mostrando que se esses mais de 2.700 atores não-federais fossem um país, ele seria a terceira maior economia do mundo, atrás apenas de EUA e China. Individualmente, suas ações continuam a somar:

  • Em janeiro, Maryland se tornou o décimo sétimo membro da US Climate Alliance, com o governador Republicano Larry Hogan liderando os esforços do estado em desenvolver um plano para reduzir emissões em 40% até 2030.

  • Estados e cidades continuam liderando em energias renováveis. O legislativo de Nova Jersey revisou seus padrões de energias renováveis no mês passado para obter 50% de sua energia de solar e eólica em 2030, com perspectivas de eficiência energética que economizaria US$ 200 milhões por ano para os contribuintes. Michigan deverá votar uma medida em novembro para aumentar energias renováveis até 2030, e Connecticut acabou de finalizar uma estratégia energética que inclui 40% de energia renovável até 2030. Em Virgínia, o número de empregos na indústria solar aumentou em 65% apenas no ano passado, enquanto a expansão de medidas de eficiência energética ajudou a empregar mais de 75 mil pessoas. Enquanto isso, 65 cidades americanas adotaram metas para ter 100% de energia limpa.

  • No começo do ano, a Ford anunciou seu plano para quase dobrar os investimentos em veículos elétricos nos próximos cinco anos. Seu principal concorrente, General Motors, planeja adicionar 20 novos veículos movidos a bateria elétrica e combustível em seu portfolio até 2023.

  • Medidas para colocar preço no carbono continuam se expandindo. A Regional Greenhouse Gas Initiative (RGGI), um programa de comércio de carbono que reúne múltiplos estados americanos, gerou US$ 1,4 bilhão em valor econômico entre 2015 e 2017 e criou mais de 14.500 empregos. As emissões de CO2 de usinas térmicas caiu pela metade nos três anos desde que o programa foi lançado. Nova Jersey e Virgínia devem aderir a iniciativa ainda este ano.

Em setembro, um novo relatório será lançado com análises do WRI e parceiros. O estudo ira analisar esses recentes avanços para ver se as cidades, estados e empresas dos Estados Unidos estão ajudando a atingir as metas americanas de mudanças climáticas.

Todos precisam avançar

Segundo os termos do Acordo de Paris, os Estados Unidos só poderão sair completamente do Acordo um dia após as eleições de 2020. O presidente sugeriu que os EUA poderiam ficar se o acordo fosse renegociado, mas na verdade, não haverá renegociação: diferentemente do Nafta (Tratado Norte-americano de Livre Comércio), onde os EUA podem forçar os seus dois parceiros de volta a mesa de negociações, um país não pode forçar mais de 190 países a refazer um acordo que levou anos até ser concluído.

Mas mesmo estando atrelado ao Acordo de Paris por mais alguns anos, os EUA cederam seu papel de liderança e credibilidade nas negociações, como disse Todd Stern, ex-enviado especial dos EUA para Mudanças Climáticas e hoje um pesquisador do WRI. Isso é vergonhoso, dado o papel que os Estados Unidos desempenharam na criação do Acordo.

Enquanto nós esperamos pela nova abordagem do governo federal americano, todas as partes – dos maiores estados americanos até as menores cidades – precisam avançar. Ao mesmo tempo, países signatários do Acordo de Paris estão perto do prazo de apresentar metas mais ambiciosas em 2020. Uma resposta positiva a esse chamado irá definitivamente provar que o presidente Donald Trump não pode impedir o progresso global no assunto. Ao mesmo tempo, um esforço determinado nos Estados Unidos, apoiado por uma comunidade internacional decidida a seguir em frente, pode apontar o caminho a seguir.