Sentir o vento no rosto, relaxar, tornar a ida e volta ao trabalho um dos melhores momentos do dia. Essas são algumas das vantagens apontadas pelos usuários da Bikxi, alternativa de transporte compartilhado em bicicletas duplas e elétricas em operação na cidade de São Paulo. A solução inovadora funciona como um serviço de táxi, mas sobre duas rodas, no qual o usuário pode solicitar o serviço através de um aplicativo. Finalista do Desafio InoveMob, a Bikxi atualmente está expandindo a frota de bicicletas e a área onde atende na capital paulista.

O idealizador da Bikxi é Danilo Vieira Lamy, que transformou sua frustração com o trânsito da cidade na motivação para inovar. Com a experiência de usar a bicicleta para se deslocar no dia a dia, Danilo enxergou algumas possíveis barreiras para quem não tem a mesma prática. Medo, insegurança, receio de chegar suado ao trabalho, eram algumas delas. Porém, ao mesmo tempo, ele via a ciclovia vazia, carros parados e o stress de quem encarava os congestionamentos.

“Eu pensava em como trazer essas pessoas para bicicleta se nem todo mundo quer pedalar? E então veio a ideia de criar uma bicicleta de dois lugares, guiada por um profissional treinado, fazendo um serviço de carona compartilhada, em que você pede pelo aplicativo e ganha uma alternativa de transporte mais rápida, divertida e que contribui para a cidade”, explica. Além de serem elétricas, as bicicletas possuem pedais independentes, o que permite ao usuário escolher entre pedalar ou não. Esse detalhe favorece também pessoas com deficiência visual, por exemplo, que não poderiam pedalar da forma convencional.

Desde agosto de 2017 em operação, a Bikxi hoje opera nas ciclovias das avenidas Brigadeiro Faria Lima e Luís Carlos Berrini, um trecho de até 22 quilômetros. Já contabiliza mais de 26 mil corridas e 15 mil usuários cadastrados. “A Bikxi se torna muito importante porque ela faz a transição entre o usuário do transporte motorizado e o usuário da bicicleta, ela faz o meio de campo de uma forma segura e econômica”, destaca Rafael Tartaroti, coordenador do programa de residência do Mobilab (Laboratório de Inovação em Mobilidade da Prefeitura de São Paulo). Segundo ele, o serviço é uma oportunidade para quem quer deixar de usar o carro, ônibus ou metrô e começar a pedalar.

 

Ciclistas.

Ciclovia na Avenida Faria Lima registra até cinco mil bicicletas por dia (Foto: Joana Oliveira/WRI Brasil)

 

 

O CEO da Bikxi entende que o serviço pode ser uma porta de entrada para muitos novos usuários de bicicleta. “Acreditamos que podemos ser uma maneira de criar a consciência e o incentivo para as pessoas começarem a usar a bicicleta e ver que é possível fazer esse deslocamento sem ser de carro, prática que está muito enraizada no paulistano. Queremos ser essa sementinha para as pessoas começarem a conhecer e ver que é possível se deslocar de outras maneiras”, diz.

“O projeto é muito relevante para São Paulo, já que a Bikxi, além de estar preocupada como uma startup em gerar negócios, em ter retorno financeiro, ela se preocupa em conseguir trazer pessoas do transporte motorizado para a bicicleta. Não estão preocupados se o usuário vai deixar a Bikxi para utilizar a bicicleta própria ou algum serviço compartilhado, mas em gerar novos ciclistas. Isso é estar preocupado com a cidade”, ressalta Rafael.

Para usuários e pilotos, o bem-estar e o ganho de tempo são sempre as principais vantagens a se destacar. Rafael Novais deixou o emprego em um escritório de advocacia para ser um “Bikxer”, como são chamados os pilotos, e diz ter sido a melhor mudança da sua vida. “Eu ganhei tempo para ficar com a minha família e ao mesmo tempo comecei a ter mais saúde. Pedalar é isso. Pedalar é vida, pedalar é saúde. A Bikxi juntou tudo.”

Bicicletas.

 

Bicicletas da Bikxi são equipadas com capacete e espaço para guardar os pertences dos usuários (Foto: Joana Oliveira/WRI Brasil)

 

“Conduzimos pessoas que podem nos passar muitas coisas legais e que também podemos passar coisas muito boas para elas. O que importa é isso. A alegria de estar na Bikxi. Às vezes, depois até de pequenos trajetos podemos ver a alegria da pessoa ao desembarcar da Bikxi. Isso é muito bacana”, concorda Luiz Henrique Guedes Santos, outro Bikxer.

Patricia Iamamoto, uma das quatro mulheres que pilotam as bicicletas, diz que a meta é ter números iguais de pilotos homens e mulheres. O amor pela bicicleta e pela mobilidade urbana a levaram até a startup. “Penso que a bicicleta não é a salvação de todos os problemas de uma cidade, mas é uma boa alternativa para a gente diminuir o trânsito e a poluição. É a busca pela qualidade de vida que me motiva.”

“Bike em São Paulo para mim era uma outra realidade. Essa cidade é incompatível para bicicleta, eu pensava”, diz Felipe Shapira, usuário da Bikxi. O trajeto de casa até a faculdade, que antes era feito de carro, tomava de 30 a 40 minutos do seu dia. Hoje, de Bikxi, ele leva 15 minutos. “Na Bikxi, além de ser mais rápido, é também uma viagem divertida, que me anima. Se você está de mau humor, melhora tudo.”

“Dá sensação de liberdade, não precisa nem prestar atenção no caminho. Pode só ficar vendo a cidade com outros olhos. Somos acostumados a ver tudo de dentro do carro ou do ônibus. Mas na garupa de uma bicicleta, nunca. Você consegue perceber a cidade de outro modo e relaxar”, destaca Felipe Rufino, usuário do serviço. “O que eu noto nas pessoas e o que eu acho mais incrível é a mudança no semblante. Elas sobem cansadas, com aquela expressão pesada. Na hora que desce da bicicleta, você já vê um sorriso. Acho que isso é o mais incrível”, conta Perla Menz, também cliente da Bikxi.

Zélia Lobo, uma das usuárias mais assíduas e famosas da Bikxi, tem 59 anos e, desde que começou a utilizar o aplicativo, diz não ter mais largado. "Quando eu acordo e está chovendo muito eu fico decepcionada, frustrada, porque eu não vou conseguir ir de Bikxi. Eu não consigo mais viver sem a Bikxi, sem contar que eu adoro os meninos e meninas que pilotam. Eles são muito responsáveis e ótimos para conversar.”

Cidade.

 

Região atendida pela Bikxi é caracterizada pela presença de prédios comerciais (Foto: Joana Oliveira/WRI Brasil)

 

O recurso recebido do Desafio InoveMob para implementar o projeto-piloto foi usado para ampliar o número de bicicletas nas ruas e, com isso, iniciar a operação na ciclovia da avenida Luís Carlos Berrini. A expansão é importante para atender as mais de 14 mil empresas e a alta densidade demográfica da região. De acordo com Danilo, no início da operação na avenida Faria Lima, o fluxo de bicicletas era de mil por dia. Hoje, são cinco mil. “Vimos um efeito multiplicador, começamos a quebrar as barreiras e o preconceito de quem não acredita na bicicleta em São Paulo. Queremos cada vez mais fomentar essa transformação e, agora, nosso foco é a Berrini”, destaca.

Cada um dos cinco semi-finalistas do Desafio InoveMob recebeu US$ 20 mil para implementar o projeto-piloto. O vencedor vai ser conhecido no dia 5 de dezembro e receberá US$ 100 mil para dar escala ao seu projeto.

O Desafio InoveMob é promovido pela Toyota Mobility Foundation e pelo WRI Brasil em parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP).