Programas de habitação social de larga escala, como o Minha Casa, Minha Vida, são uma oportunidade de investir em práticas sustentáveis que podem melhorar a eficiência das edificações, gerando benefícios econômicos, sociais e ambientais. Essa é a conclusão da nova publicação lançada pelo WRI Brasil, que avalia os impactos de 13 medidas para aumentar a eficiência das edificações em programas de habitação de interesse social.

São alterações no projeto, construção ou operação de uma edificação que podem ser incorporadas para aumentar a eficiência energética ou reduzir o consumo de água durante a sua operação. O estudo, desenvolvido em parceria com a Mitsidi Projetos, analisa o potencial de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), os benefícios para a qualidade de vida da população e os custos e barreiras para a adoção dessas medidas.

As medidas foram simuladas individualmente em cada região do país, para identificar as diferenças de desempenho conforme as características climáticas e ambientais. Tratam-se de ações e tecnologias simples e de baixo custo que podem ajudar a reduzir o consumo de água e energia elétrica nos empreendimentos.

Em relação ao consumo de água, a redução média pode chegar a 45,5%, independentemente da região do país e considerando tanto casas quanto edificações nas quais vivem várias famílias, como prédios e condomínios. Para energia elétrica, o potencial de redução no consumo é de 18,9%, nas mesmas condições. Considerando as reduções de consumo, a economia média mensal de despesas por família pode ser de até R$ 54,22, em habitações uni e multifamiliares.

Algumas das medidas avaliadas são de baixo custo ou não exigem investimentos adicionais –  é o caso do vaso sanitário com fluxo duplo e dos materiais para vedações externas e para cobertura, que não apresentam custos adicionais na troca; da orientação solar dos dormitórios e da cor da tinta das paredes externas, que são medidas de zero custo; e dos arejadores nas torneiras e das lâmpadas de LED nas edificações, escadas e halls, também medidas de baixo custo. Assim, com pouco ou nenhum investimento adicional, é possível substituir uma solução de menor eficiência por uma medida de melhor desempenho e eficiência que gere economia.

Um dos principais desafios para a adoção das medidas analisadas em habitações de interesse social é o custo adicional requerido por algumas, mas o estudo mostra que o investimento em medidas de eficiência não é necessariamente mais alto – e, quando é, o tempo de retorno (payback) é relativamente curto.

Edificações eficientes contribuem para a criação de cidades sustentáveis e para o cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável. No caso de medidas adotadas em programas de habitação social, há ainda um significativo impacto social, já que estamos falando da redução das despesas de famílias de baixa renda. Assim, governos e lideranças locais têm um papel fundamental: promover projetos concebidos com essa visão e oferecer incentivos para a superação de barreiras institucionais, técnicas e de mercado para a implementação da eficiência em edificações.

As medidas de eficiência avaliadas foram divididas em três categorias: consumo de água, consumo de energia elétrica e arquitetura passiva. Os resultados abaixo vêm da simulação de cada medida individualmente – combinadas entre si, podem gerar uma economia ainda maior.

<p>(Arte: WRI Brasil)</p>

(Arte: WRI Brasil)

 

Consumo de água

1) Vaso sanitário com fluxo duplo: segunda medida com maior potencial de redução de consumo de água para as edificações, com uma redução de 15,6%, tanto para a edificação unifamiliar como para multifamiliar.

2) Arejador nas torneiras: com baixo custo e fácil implementação, possui um potencial de redução de 6,7% no consumo de água.

3) Captação de água de chuva: potencial de redução do consumo de água de 10% em habitações unifamiliares e 8,3% em multifamiliares; custo de implementação mais baixo para unidades multifamiliares por conta da divisão entre os membros.

4) Medidor individualizado: nas edificações multifamiliares apresentou uma redução de 30% no consumo de água.

Arquitetura

5) Orientação dos dormitórios: potencial de redução 0,4% (aplicável apenas às edificações unifamiliares).

6) Material da cobertura: aplicável apenas para moradias unifamiliares, com potencial de redução de consumo de 3,6% (em edificações multifamiliares, a medida teria impacto apenas nas unidades do último andar)

7) Material das vedações externas: a edificação unifamiliar apresenta quatro faces externas, enquanto a multifamiliar apenas duas, por conta do tipo de construção. Dessa forma, os resultados apresentam uma variação de 0,10% de redução das despesas com energia elétrica no multifamiliar e de 3,6% no unifamiliar.

8) Abertura das janelas: potencial de redução de 0,1% para edificações unifamiliares e de 0,7% em multifamiliares.

9) Cor da tinta das paredes externas: redução de gastos com consumo de energia elétrica de 2,3% no multifamiliar e 1,5% no unifamiliar (cor da tinta)

Energia

10) LED nas áreas privadas: nas edificações unifamiliares, o potencial de redução no consumo é de 4,5%; nas multifamiliares o número aumenta: 6,6%.

11) Painéis fotovoltaicos: o custo de implementação é alto para ambos os tipos de edificação (R$ 7.850 por unidade), mas com alto potencial de redução no consumo: mais de 92% também para ambos os casos.

12) Sistema de aquecimento solar: simulada apenas em edificações multifamiliares, com potencial de redução no consumo de 17% (medida já obrigatória para edificações unifamiliares do PMCMV desde 2011).

13) LED e sensor de presença nas áreas comuns, como escadas e halls: aplicável apenas em edificações multifamiliares, com potencial de redução de 1,5%.

Os ganhos das medidas de sustentabilidade para edificações se manifestam em diferentes escalas, seja na economia de renda das famílias, na economia de energia e de recursos hídricos dos municípios e/ou na redução das emissões de GEE do país. Entender sobre quem incidem os benefícios e os custos da implementação das medidas é fundamental para avaliar corretamente a pertinência e a viabilidade do investimento adicional para implantá-las.