Este artigo foi escrito para a revista Mundo Volksbus, da Volkswagen.


Mudamos a forma como nos deslocamos nas cidades. Nos últimos anos, a mobilidade urbana tem sido marcada pela ascensão de diversas soluções inovadoras de transporte. A popularização de aplicativos como os serviços de viagens sob demanda (entre eles Uber, 99, Cabify e alguns inclusive específicos para mulheres como FemiTaxi, Lady Driver e Venuxx), as bicicletas compartilhadas (com e sem estação), os planejadores de viagens (Google Transit, Moovit e Citta Mobi) e, mais recentemente, as scooters elétricas, entre outros, vem trazendo mais opções e conveniência aos brasileiros. Esses serviços, parte da chamada nova mobilidade, geram milhares de dados que podem ser utilizados para melhorar o planejamento e a gestão da mobilidade nas cidades, além de qualificar o deslocamento das pessoas.

O movimento para compartilhar dados – relacionados à origem e ao destino das viagens, rotas utilizadas, horário e outros detalhes – é uma tendência mundial crescente. Muitas cidades estão exigindo isso de provedores privados de mobilidade como condição para a sua operação. Em 2018, dez municípios brasileiros já tinham regulamentações em vigor referentes ao serviço de viagem sob demanda, dos quais nove requerem abertura de algum tipo de dado¹.

Tradicionalmente, a principal base de dados para o planejamento da mobilidade provem das pesquisas Origem-Destino (OD). Em geral, elas são realizadas a cada 10 anos e se baseiam em milhares de entrevistas domiciliares, o que tem orçamento elevado. Por exemplo, a última pesquisa OD de São Paulo demandou profissionais em campo entre agosto de 2017 e outubro de 2018, que visitaram 32 mil domicílios e realizaram mais de 100 mil entrevistas a um custo de alguns milhões de reais. Recife buscou outra alternativa e desde 2015 realiza a pesquisa de forma online a cada dois anos. Exige que grandes empreendimentos (instituições de ensino, empresas com mais de 200 funcionários, entre outros) participem da pesquisa, garantindo dados atualizados a um baixo custo e em menor tempo. Agora, imagine uma cidade tendo ainda acesso a dados em tempo real gerados por inúmeros aplicativos de mobilidade!

O momento atual representa uma grande chance para as cidades redesenharem suas políticas e sistemas de transporte com o objetivo de mover mais pessoas e não apenas mais carros. Dados poderiam auxiliar decisões sobre a implementação de infraestruturas como ciclovias, faixas de ônibus, mudança de itinerários do transporte coletivo e as cada vez mais importantes áreas de embarque e desembarque. Hoje, por exemplo, algumas vezes é difícil justificar ciclovias quando envolvem a retirada de vagas de estacionamento. Dados que revelem as rotas utilizadas por ciclistas em muito apoiariam a tomada de decisão.

Contudo, não basta apenas pedir e ter dados. Deve-se assegurar a sua padronização, nível de desagregação, privacidade e sigilo. Nos Estados Unidos, o SharedStreet é uma plataforma pioneira para compatibilização de dados que apoia as cidades na interface com os provedores de mobilidade. Os municípios também precisam ter a capacidade de gerar inteligência através de dados. Essas informações devem ser a base para melhores políticas públicas e promover a integração da nova mobilidade ao sistema de transporte tradicional beneficiando a todos.

¹Pasqual, F; Petzhold, G. (2018) Panorama das Regulamentações de Serviços de Viagens sob Demanda no Brasil